Juliane Costa
Vale a pena viajar na pandemia?
Agosto chegou e trouxe junto o fim do recesso escolar. Necessário tanto para alunos quanto para professores, alguns pais já começam a sentir arrepios toda vez que se aproximam esses períodos em que a criançada vai passar mais tempo em casa.
Quando eu era criança, as férias de julho eram sinônimo de assoprar velas (sou canceriana), e assistir sessão da tarde, seguida de Malhação. Depois que me casei, no entanto, férias virou sinônimo de viajar (aleluia!), e assim que nossa filha começou o ensino fundamental, tivemos que adaptar nossas viagens ao calendário escolar.
Esse ano, porém, foi um pouco diferente. Nossa filha havia dito que queria passar as férias com os primos que moram no Nordeste; até aí, tudo bem. Já tínhamos viajado pro Nordeste em janeiro desse ano, mas para outros estados. Sem problemas. Fechei o roteiro, e quando estava prestes a comprar as passagens, eis que ela vira e me fala: "mamãe, quero ir sozinha". Travei. "Hum... tem certeza?", perguntei. Ela foi categórica: "sim".
Aqui cabe uma pausa para dizer que acho minha filha moh legal. Não é porque eu fiz, mas mesmo para uma garota se aproximando perigosamente da adolescência, ela é gente boa pra caramba. Então, já que ela estava com as notas em dia, e tínhamos milhas para pagar a passagem, decidimos concordar.
Beleza. Estava decidido o que fazer com o tempo livre da criança nas férias. Mas... e nós? Ficar no sofá maratonando séries não seria uma opção. "Uma viagem de carro pro sul, para curtir o frio?", o marido sugeriu. Eu não sou muito fã de frio. "Também tem aquela viagem que havíamos pensado em fazer no início do ano, para Punta Cana. Está aberta para os brasileiros, não precisa de teste", eu lembrei. Não sei vocês, mas eu troco duas semanas de frio por quatro dias de calor, na praia, brincando.
A intenção inicial era uma viagem de quatro dias para Punta Cana, com uma parada de um a dois dias em Santo Domingo, para absorver toda a história da capital da República Dominicana (tem muita). Seria uma viagem de uma semana, super simples. Por ser julho, não seria a época mais barata, mas estávamos em casal, poderíamos nos mimar um pouquinho, e curtir uma lua de mel fora de época. Mas o bicho viajante que habita em meu marido não iria deixar passar barato.
Depois que dei a sugestão, mesmo com a passagem um pouco mais cara, ao pesquisar os preços dos hotéis, meu marido se animou. Daí começou a saga. "Mas o restante da América Central está do lado". Fazia anos que meu marido queria fazer uma viagem de ônibus que passasse pelos países da América Central. Para quem não sabe, antes de eu começar a planejar viagens, era meu marido quem fazia esse trabalho aqui em casa; por também ser expert em planejamento de viagens, ele sempre lança uns desafios loucos.
Em minhas pesquisas, descobri que a Costa Rica também estava aberta e não precisava de testes. Rá! Então, a gênia aqui descobriu um passeio cultural até Granada, no sul da Nicarágua, saindo de uma cidade no litoral da Costa Rica. Seria mais um país, mas ainda seria tranquilo, pois não teríamos que ter maiores preocupações além de fazer o único PCR da viagem. Daí o marido foi à loucura, mas não se deu por satisfeito: "quero conhecer a capital da Nicarágua". E aí começaram as discussões. "Amor, isso que você quer é muito difícil, vai deixar a viagem mais longa e mais cara", argumentei. Mas entendi que não teria jeito, e lá fui eu dar um jeito de fazer acontecer.
Nesse ponto, é claro que a viagem de uma semana já tinha aumentado de tamanho. Impus como condição que ela tivesse a mesma duração da viagem da nossa filha. E assim fiz caber três países e seis cidades diferentes numa viagem de quinze dias. Daí começaram outros problemas: a variante delta estava aumentando os casos de covid nos lugares que iríamos visitar. A República Dominicana, que antes não cobrava teste para entrada de brasileiros, passou a exigir o antígeno, e pouco tempo antes de embarcarmos, mudou a exigência para o PCR (mais caro e com tempo de resposta mais demorado). O Brasil também passou a exigir o PCR para brasileiros retornando de viagem ao exterior.
Todos os testes exigidos nos fizeram pensar em desistir da viagem em pelo menos duas situações. Os custos não paravam de aumentar, mas as passagens estavam compradas, e mesmo que a cia aérea permitisse a remarcação, sabíamos que seria uma possível dor de cabeça adiada, e que poderia não necessariamente resultar em economia lá na frente (achávamos que a pandemia duraria alguns meses, e olha ela aí, nos assombrando até hoje). Por fim, ligamos o "foda-se", e com um planejamento meticuloso em mãos, lá fomos nós.
A viagem correu melhor do que o esperado. Mesmo o passeio cultural à Granada que deu errado, deu certo (virou um transfer, que nos economizou uma grana, e fizemos outros passeios, mais baratos, por nossa conta). Fizemos tudo o que queríamos e mais, e ficamos abaixo da meta do orçamento (com os testes incluídos). Fechamos a viagem com chave de ouro passando as quatro noites em Punta Cana num resort maravilhoso, pagando mais barato que resort no Nordeste, ai que delícia!
No final, ao fazer o batimento de contas (costumo confrontar o que foi planejado com o que foi gasto, para saber se o orçamento está adequado ou se tem que ser modificado para as próximas viagens), essa viagem durante a pandemia ficou 18% mais cara que outras viagens que já fizemos para o exterior. Se valeu a pena? Eu diria que sim, pelos lugares novos que conhecemos, e pelos bons momentos vividos (está difícil a superar a saudade). Mas faria de novo? Bom, hoje nossa opção é por só voltar ao exterior quando mais barreiras caírem e tiverem menos exigências de testes do tipo PCR. Com toda certeza, os testes foram responsáveis pelo encarecimento da viagem, e é algo a ser levado em consideração ao montar um orçamento, definitivamente.
Beijos e até a próxima!